A 30ª Conferência do Clima da ONU, sediada no Brasil e encerrada nesta semana, foi marcada por um contraste agudo. De um lado, Belém consagrou avanços históricos em temas de justiça climática e participação social, culminando no “Pacote de Belém”. De outro, a Conferência falhou em responder com a ambição necessária aos imperativos da crise climática, especialmente nos temas centrais de eliminação de combustíveis fósseis e financiamento público para adaptação.
Para o setor produtivo — acostumado a operar no rigor da conformidade legal — essa dupla leitura é essencial. As novas exigências regulatórias surgirão dos avanços concretos (Indicadores de Adaptação, critérios sociais), enquanto os déficits apontam para uma pressão contínua e crescente da sociedade civil e de investidores sobre a matriz energética e o desmatamento.
I. A Centralidade Inédita da Justiça Social
O maior legado da COP 30 foi a consolidação de marcos importantes em justiça de raça e gênero, reflexo da mobilização sem precedentes da sociedade civil e dos povos da Amazônia.
II. Indicadores de Adaptação de Belém: Um Novo Padrão Técnico
A aprovação dos Indicadores de Adaptação de Belém é um avanço concreto no monitoramento da resiliência global, estabelecendo métricas voluntárias para áreas como água, saúde e infraestrutura.
III. O Papel do TFFF: Investimento, Não Doação
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), embora criticado por ser um mecanismo de mercado, estabelece a primeira grande infraestrutura financeira para remunerar o país por resultados de conservação.
I. O Tabu dos Combustíveis Fósseis
A maior frustração da COP 30 foi a incapacidade de incluir no “Pacote de Belém” um mapa de saída (phasing-out) ou um roteiro de eliminação dos subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis.
II. Financiamento Climático: Tímido e Não Vinculante
Apesar dos apelos do Sul Global, o resultado sobre financiamento climático foi considerado insuficiente. Não houve responsabilização direta dos maiores emissores históricos e os compromissos de triplicar o financiamento para adaptação até 2035 (e não 2030) carecem de metas vinculantes e recursos específicos.
O Desafio da Implementação
O legado de Belém é um complexo de avanços sociais concretos e um sinal de alerta sobre a inércia climática global. A implicação para o mercado é clara: a nova era regulatória exigirá que a viabilidade de um empreendimento seja medida por sua capacidade de incorporar a justiça social e a resiliência climática de forma auditável. O desafio é traduzir esses 29 documentos em processos, projetos e conformidade.