O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, frequentemente chega às mesas de diretoria como uma data de reflexão cultural ou ações de endomarketing. No entanto, para o setor produtivo — especialmente mineração, imobiliário e infraestrutura —, esta data carrega um imperativo muito mais profundo e técnico: a compreensão de que a sustentabilidade é um conceito holístico. Não é possível dissociar a proteção ambiental da equidade social.
Na Ecominas, após 23 anos atuando na conformidade legal, observamos uma mudança tectônica no mercado. O licenciamento ambiental não é mais apenas sobre fauna, flora e ruído. Ele é, cada vez mais, sobre pessoas, histórias e territórios. E no Brasil, a história dos territórios é indissociável da história da população negra.
Muitos gestores ainda encaram o ESG (Environmental, Social and Governance) de forma fatiada. Investem milhões em tecnologias de baixo carbono (o ‘E’), mas tratam o impacto social (o ‘S’) como filantropia. Este é um erro estratégico que custa caro.
A verdadeira Sustentabilidade Estratégica entende que a desigualdade racial e social é um risco sistêmico. Empreendimentos que se instalam em territórios vulneráveis sem um olhar de reparação e inclusão enfrentam resistência, conflitos e insegurança jurídica.
A “Licença Social para Operar” — um ativo intangível, mas valioso — depende diretamente de como a empresa dialoga com a demografia real do local onde opera. Se ignoramos que as populações mais afetadas por impactos ambientais ou exclusão urbana são, estatisticamente, as populações negras e periféricas, nosso Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) ou nosso Plano de Controle Ambiental (PCA) nascem incompletos.
Quando falamos em “reparação” no contexto corporativo e regulatório, não estamos falando apenas de revisitar o passado, mas de projetar um futuro viável.
Para o setor imobiliário, por exemplo, a reparação se traduz em projetos urbanísticos que não segregam, mas que integram. É utilizar o EIV não apenas para mitigar o tráfego, mas para entender como aquele novo empreendimento pode fomentar a economia local, composta majoritariamente por pequenos empreendedores negros da região.
Para a mineração e a indústria, a reparação está na Mediação de Conflitos e nos Planos de Comunicação Social (PCS). É substituir a postura de “chegamos para explorar” pela postura de “chegamos para desenvolver”. É garantir que as compensações socioeconômicas cheguem efetivamente a quem historicamente foi alijado do desenvolvimento.
A tese central que defendemos na Ecominas é simples: não há sustentabilidade ambiental sem justiça social.
Você pode ter o melhor Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) do mercado. Mas se a comunidade de catadores do entorno — majoritariamente negra e em situação de vulnerabilidade — não for integrada à cadeia de valor através da logística reversa ou educação ambiental, seu projeto continua gerando exclusão. Ele é tecnicamente correto, mas estrategicamente frágil.
A conformidade legal moderna exige esse olhar. As Normas de Desempenho da IFC (Corporação Financeira Internacional), que balizam grandes financiamentos, são claras ao exigir o engajamento profundo com as comunidades afetadas e a proteção de grupos vulneráveis.
Nosso papel é traduzir essa complexidade social em entregas técnicas e seguras.
Neste Dia da Consciência Negra, o convite da Ecominas aos empresários e gestores é para uma mudança de lente. Que saiamos da conformidade burocrática (“o que a lei manda”) para a inteligência estratégica (“o que o futuro exige”).