Resiliência Urbana: Lições das Inundações no Sul e Caminhos Sustentáveis para o Futuro

22 de julho de 2024
Por Sabrina Di Blasio

Em maio deste ano, o Brasil inteiro se mobilizou diante da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul. As chuvas intensas e as inundações afetaram mais de dois milhões de pessoas, deixando um rastro de destruição e sofrimento. A solidariedade se espalhou pelo país — mas o episódio também nos obriga a refletir sobre uma questão estrutural: quais decisões urbanísticas precederam esse desastre e, mais importante, que caminhos serão seguidos a partir de agora?

Segundo especialistas, eventos extremos como este devem se tornar mais frequentes devido às mudanças climáticas. Isso reforça a urgência de repensarmos a forma como nossas cidades são planejadas e construídas. A realidade é que grande parte das metrópoles brasileiras se desenvolveu de maneira acelerada, muitas vezes ocupando áreas alagáveis e construindo sobre margens de rios e córregos. Belo Horizonte, por exemplo, enfrenta anualmente enchentes já naturalizadas no cotidiano da população.

No caso do Rio Grande do Sul, a situação é ainda mais delicada. Muitas cidades estão localizadas em planícies e próximas a corpos d’água de grandes proporções, como o Rio Guaíba e a Lagoa dos Patos. Com isso, mesmo alterações pontuais no nível da água podem provocar alagamentos em larga escala — ainda mais quando os sistemas de drenagem urbana sofrem com a falta de manutenção e investimentos, responsabilidade direta do poder público.

Para Além da Tragédia: O Que Fazer Agora?

A pergunta que ecoa é: como reconstruir cidades mais preparadas, seguras e sustentáveis? Entre as soluções possíveis, destaca-se o conceito das “cidades-esponja”, idealizado pelo arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu. A proposta se baseia em transformar o ambiente urbano em um sistema capaz de absorver, armazenar e filtrar a água da chuva — e não apenas escoá-la rapidamente para longe.

Na prática, isso se traduz em infraestruturas verdes como telhados vegetados, parques inundáveis, jardins de chuva, lagos artificiais e áreas úmidas restauradas. Esses elementos funcionam como verdadeiras esponjas naturais, permitindo a infiltração da água no solo e reduzindo a pressão sobre os sistemas de drenagem tradicionais.

Foto: Srirath Somsawat

Além de mitigar inundações, as cidades-esponja também melhoram a qualidade do ar, promovem a biodiversidade urbana e ampliam os espaços de convívio público, criando um ambiente urbano mais saudável e resiliente. Trata-se de um modelo que alia tecnologia, ecologia e planejamento urbano inteligente.

América Latina Também Dá o Exemplo

Embora a ideia das cidades-esponja tenha origem na China, cidades latino-americanas já vêm aplicando soluções similares com bons resultados — e com orçamentos mais modestos do que se imagina.

Na Cidade do México, por exemplo, foram criados parques lineares e sistemas de drenagem baseados em processos naturais de infiltração e retenção de água, enfrentando tanto o risco de enchentes quanto o problema da escassez hídrica.

Em Medellín, na Colômbia, projetos de revitalização de córregos e áreas verdes ajudaram não só no controle das inundações, como também na requalificação urbana e no fortalecimento do tecido social, integrando a natureza ao cotidiano da população.

Esses exemplos mostram que, mesmo fora dos grandes centros globais, é possível adotar práticas urbanas sustentáveis que conciliem desenvolvimento e resiliência climática. Não se trata apenas de evitar novos desastres, mas de construir cidades melhores — para todos.

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