Tragédia no Rio Grande do Sul e a Urgência de Cidades Mais Permeáveis
3 de junho de 2024
Por Thamiris Rosa
Meio AmbienteSocialSoluçõesUrbanismo
Nos últimos meses, o Brasil acompanhou com pesar a tragédia provocada pelas fortes enchentes no Rio Grande do Sul. Comunidades inteiras foram destruídas, vidas foram perdidas, e milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Esse evento extremo nos obriga a refletir, com seriedade e responsabilidade, sobre a forma como temos estruturado nossas cidades — especialmente em relação ao papel essencial das áreas permeáveis nos ambientes urbanos.
O que são áreas permeáveis e por que elas importam?
Áreas permeáveis são espaços onde o solo permanece exposto ou recoberto por materiais que permitem a infiltração da água da chuva, como jardins, gramados, parques e terrenos com vegetação. Diferente do concreto, asfalto e revestimentos cerâmicos, essas superfícies absorvem a água, ajudam a controlar o escoamento e promovem equilíbrio ecológico.
Os benefícios são diversos e impactam diretamente a qualidade de vida nas cidades:
Redução do risco de enchentes: A infiltração da água no solo evita o acúmulo superficial e alivia a pressão sobre os sistemas de drenagem pluvial.
Recarga dos aquíferos: O retorno da água ao subsolo ajuda a manter reservas naturais que abastecem comunidades urbanas e rurais.
Melhoria da qualidade do ar: Áreas verdes filtram poluentes atmosféricos e contribuem com a oxigenação.
Redução das ilhas de calor: Espaços permeáveis colaboram na regulação térmica das cidades, amenizando o calor gerado por superfícies pavimentadas.
O papel do cidadão
Cada um de nós pode adotar práticas que promovam a permeabilidade do solo e a resiliência urbana:
Transforme áreas pavimentadas: Reduza o uso de cerâmicas e concretos em quintais e calçadas, substituindo por gramados, canteiros ou hortas.
Escolha materiais permeáveis: Use pisos intertravados, pedriscos ou revestimentos ecológicos em áreas externas.
Adote telhados verdes: Além de permitir a absorção da água da chuva, eles ajudam a isolar termicamente a edificação.
Valorize e preserve áreas verdes públicas: Parques, praças e áreas naturais desempenham papel estratégico na sustentabilidade urbana.
A responsabilidade do poder público
Para além das ações individuais, é fundamental que governos municipais, estaduais e federal assumam um compromisso firme com o planejamento urbano sustentável:
Revisão dos planos diretores urbanos: A proteção e ampliação das áreas permeáveis devem ser prioridade nas políticas públicas.
Implementação de infraestruturas verdes: Jardins de chuva, bacias de infiltração, parques lineares e outras soluções baseadas na natureza precisam fazer parte da paisagem urbana.
Legislação e fiscalização eficazes: É necessário regulamentar e monitorar o uso do solo para evitar o avanço indiscriminado da impermeabilização.
Educação ambiental: Campanhas de conscientização podem informar, engajar e mobilizar a população para a mudança de hábitos.
Imagem: Leandro Osório/Estadão Conteúdo
A tragédia no Rio Grande do Sul é mais do que um desastre natural — é um alerta. A negligência histórica com o planejamento urbano e a impermeabilização desenfreada de nossas cidades cobram um preço alto. Prevenir novos desastres exige uma ação conjunta entre sociedade civil, setor privado e poder público. É hora de priorizar soluções que respeitem o ciclo da água, valorizem o verde e garantam cidades mais seguras e sustentáveis para todos.
Áreas permeáveis salvam vidas. Vamos repensar o presente para proteger o futuro.